
Por Anna Telles
Seu sofrimento é o quebrar da casca que aprisiona seu entendimento.
Kahlil Gibran
Há dores que nos despedaçam.
E há dores que apenas mostram o quanto já estávamos quebrados por dentro.
Algumas não vêm para ferir, vêm para abrir.
Sofrer, às vezes, é resistir ao que veio nos ensinar.
É se agarrar à dor como se ela fosse tudo o que somos.
Mas a dor é passagem.
É a vida abrindo frestas onde a gente mais se fechou.
E, quando escutada em silêncio, toda dor carrega o convite de rompermos a casca
e nascermos de novo, com os olhos mais abertos.
Claro que é difícil ver isso enquanto estamos no meio.
Mas se houver presença, mesmo que pequena,
a dor começa a mostrar do que nos libertou.
As emoções fazem parte do caminho.
Não são erro, nem desvio.
Também não precisam ser vencidas.
Elas só pedem que a gente pare de lutar com elas.
E que não deixe que elas nos conduzam.
Algumas vêm como ondas.
Nos arrastam.
Nos lavam.
Outras passam leves e quase imperceptíveis.
Mas todas falam, nos atravessam.
Com o tempo, e com consciência, a gente aprende a estar com elas de outro jeito.
A sentir a raiva, mas sem agir a partir dela.
A acolher a tristeza, sem morar nela.
A escutar o medo, mas sem entregar a ele o comando.
A consciência não nega o que sentimos.
Ela acolhe sem se confundir.
Ela respira junto.
Ela acompanha.
Até que a dor se transforme.
Ou simplesmente… se dissolva, vá embora.
E é aí que algo muda, quando deixamos de reagir como sempre reagimos.
Quando, em vez de fugir, a gente para.
Respira.
Permite que o que veio, venha.
E que, quando for a hora,
vá.