
Por Anna Telles
Você já orou e sentiu que ninguém estava ouvindo? Já buscou um sinal e encontrou apenas silêncio? Já precisou seguir sem sentir que havia uma mão te sustentando?
Nem sempre a fé vem com consolo. Nem sempre sentimos aquela presença que nos sustenta, aquela certeza que nos dá força. Às vezes, tudo o que temos é o silêncio.
Quantas vezes nos sentimos assim? Pode ser na dor de uma perda, na incerteza de um caminho, na exaustão de seguir tentando. Fazemos o que acreditamos ser certo, mas não recebemos nada em troca.
A fé, nesses momentos, não é sobre perceber a presença d’Ele. É sobre continuar. Sobre servir mesmo sem certezas. Sobre cuidar mesmo sem respostas. Sobre amar mesmo sem sinais.
Porque talvez Deus não esteja apenas nas certezas e nos milagres. Talvez Ele também esteja no silêncio, na espera, na coragem de dar o próximo passo – mesmo sem enxergar o caminho inteiro.
Se hoje você sente esse vazio, essa ausência, lembre-se: isso não significa que Deus foi embora. Talvez Ele só esteja te ensinando a confiar, mesmo quando tudo parece sem sentido.
Talvez não chamemos de “noite escura da alma”, como São João da Cruz descreveu. Mas todos conhecemos dias em que nada faz sentido. Quando nos sentimos sós. Quando as orações parecem não atravessar o teto. Quando esperamos um sinal, uma resposta – e só encontramos silêncio.
Foi assim com Madre Teresa. Por quase 50 anos, ela cuidou dos mais pobres, dos doentes, dos esquecidos – sem sentir a presença de Deus. Ela, que passou a vida inteira sendo luz para os outros, vivia na mais profunda escuridão dentro de si.
Poderia ter desistido. Poderia ter se perguntado: “Se Deus me abandonou, por que devo continuar?” Mas ela ficou. Continuou.
Porque encontrou Deus no rosto dos outros. Se Ele não falava dentro dela, falava através das mãos que segurava, dos olhos que olhava, dos corpos que cuidava. Mesmo em silêncio, ela fez da própria vida uma resposta.
Foi assim também com Padre Pio. Entre os estigmas e os milagres, ele carregava dores que ninguém via. Além da dor física, havia a solidão, as dúvidas e os períodos de silêncio divino. Ainda assim, permaneceu fiel, orando e servindo, mesmo quando Deus parecia distante.
Foi assim com Jesus na cruz. Ele também experimentou a dor do abandono, o peso do silêncio, a angústia da espera. E, mesmo assim, entregou-se por inteiro.
Histórias diferentes, e todas atravessaram a mesma estrada. Seguir mesmo sem ver. Continuar mesmo sem certeza.
Porque, no fim, Deus pode estar no silêncio também. Não um Deus que responde, mas um Deus que, mesmo em silêncio, caminha ao lado. Um fogo que queima sem ser visto. Um fio invisível que nos segura mesmo quando achamos que caímos.
Talvez a ausência d’Ele seja só o tempo que Ele nos dá para aprendermos a permanecer.